Bonita, e maldita ao mesmo tempo, a palavra saudade só existir em português.

Ir à luta.

Quando eu voltei pra São Paulo depois de ir pro Uruguay no final do ano passado, um desânimo filha da puta bateu em mim. Cidade cinza, poluída, rios mortos, praticamente sem fauna e flora, gente morando na rua, educação, transporte, cuidados médicos, tudo pelos olhos da cara. Claro que a cidade tem seus pontos bons, mas não se comparam à quantidade dos ruins.
Com essa quantidade de contras, tive uma súbita vontade de ir embora dessa cidade o mais rápido possível. Daí eu pensei no quão hipócrita eu sou, de reclamar e não fazer porra nenhuma. Aproveitar porque eu faço parte da porra da minoria da elite - se não isso, pelo menos classe média alta - brasileira e fazer questão de fugir sempre pra alguma bolha. Mas cara, da realidade não dá pra fugir. Só se você for completamente louco. O que, até onde eu sei, eu não sou não.
Então eu tinha prometido a mim mesma: vou à luta. Não sei o que eu vou fazer, por onde começar, mas eu preciso fazer alguma coisa. Critiquem-me por ser uma burguesinha escrota que acha que tá fazendo alguma merda no mundo, mas eu vou ao menos tentar.
E sabe o pior de tudo? Nem tentar, esse ano, eu tentei. As manifestações contra o aumento da tarifa do ônibus, por exemplo, tão aí, já foram 6, e eu sempre com alguma desculpinha pra não ir. Fico indignada, xingo, mas não faço porra nenhuma. Sabe de uma coisa? Tá na hora de ir à luta, de fato. Se minha mãe me proibir, eu vou escondida. Tô cansada de não fazer nada. Não quero morrer como um peso pra Terra, quero fazer alguma coisa que um dia eu me lembre com orgulho. Machucados físicos passam. Os psicológicos, daí já é outra história.

Vem Cá

Vem cá,
Não quero confusão
Vamos lá pra fora
Longe do portão
Cuidado,
Olha o meu irmão
Ele tá ligado,
Aqui não dá não
Vem cá,
Em casa não dá pra ficar
Vamos pra outro lugar
Onde a gente possa
Se dar, fumar e aumentar o som
Gritar, vai ser muito bom
Sem hora para acabar
Pirar debaixo do edredon
Pintar e borrar baton
Sem medo de alguém chegar

Vem cá, vem cá
Vem cá, vamos lá

Vem cá,
Não quero confusão
Vamos lá pra fora
Longe do portão
Cuidado,
Preste atenção
O campo tá minado
Aqui não dá não
Vem cá,
Em casa não dá pra ficar
Vamos pra outro lugar
Onde a gente possa
Se dar, fumar e aumentar o som
Gritar, vai ser muito bom
Sem hora para acabar
Pirar debaixo do cobertor
Amar e fazer amor
Sem medo de alguém chegar

Vem cá, vem cá
Vem cá, vamos lá
Vem cá, vem cá
Vem cá, vamos lá.

viciei nessa música.

cont. conto

A coisa certa eu estava longe de estar fazendo. Seguir a razão, essas putarias. Não era a minha praia. Não era simplesmente tudo que eu mais queria na minha vida? Então pronto. Pelo menos agora eu sabia que não duraria, e de certo modo eu comecei a me conformar e achar aquele jeito divertido. Nós conversamos, naquela tarde, sobre tudo como se nunca tivéssemos parado de se falar.

Estava começando a escurecer e a chover de novo. Subi o capuz do meu casaco, cobri minhas mãos com as mangas e fiquei de pé. Ele se levantou. Me beijou. O mesmo gosto doce de melão que eu me lembrava. Sussurrou o trecho de Fated to Pretend, do MGMT, no meu ouvido: "Forget about our mothers and our friends, we're fated to pretend".

Nós demos as mãos e começamos a andar, sem rumo.

é

Eu tinha feito uma postagem, como de uma história, no outro blog.
A história falava sobre duas irmãs, ignorância e inocência, que acabavam sendo a mesma pessoa. Eu as descrevia como ruins, quando eu não percebi que o conceito mais puro que eu conheço é a inocência. E também o que é raro, hoje em dia, de se encontrar - sem ser em crianças. Na minha opinião, tem um certo prazo até ou ela decidir sumir ou ela se tornar assim, num piscar de olhos, em ignorância.

Faz tempo que não posto aqui...